SABER DIZER NÃO AOS FILHOS.
Em minha clínica, onde atendo basicamente adolescentes nos últimos 30 anos, percebo que eles estão cada vez mais conectados no celular a ponto de quando pergunto algo, sequer me olham, respondem fixados no celular.
Na realidade, tenho várias percepções e uma delas é bem nítida: dificuldade de transpor um obstáculo. E o NÃO é um obstáculo.
Tenho muitas professoras que também se tratam comigo e elas percebem o limiar baixo para o NÃO.
Coisas simples como: “Mãe deixa eu ir ao shopping com fulana?” Não. “Mãe você nem vai ter trabalho, a mãe dela vai levar.” Não, amanhã você tem prova e tem que dormir cedo (aliás eles não dormem cedo). “Eu nunca durmo cedo. Eu vou.” E fica repetindo igual uma gralha: “deixa mãe, deixa mãe, deixa mãe.”
A mãe de saco cheio, fala: “pode ir, mas tem que voltar cedo”. O “MAS” foi só para manter uma “autoridadezinha”. Depois que conseguiu o SIM, volta ao celular e se desconecta de mãe e dentista. Simples assim.
Tenho uma cliente 11anos, fala compulsivamente, não ouve o que você fala e numa determinada consulta quebrou o aparelho pela vigésima vez. Disse que tinha esquecido que não podia comer pipoca. E eu falei: “você sabe que não pode comer pipoca”. Já conversamos sobre isso, inclusive com sua mãe. “sei disso, mas esqueci.” E se desconectou. Troquei a borrachinha de onde não tinha quebrado e onde quebrou não consertei. No fim da consulta ela sempre faz uma selfie para postar a cor da borrachinha para as amigas. Qual não foi a supresa o dente da frente sem o bráquete. Horrível, dando uma descontinuidade no visual estético do sorriso.
Ela deu um grito autoritário: “Você não vai consertar?” Está horrível!”. Aproveitei que ela estava desconectada e coloquei um fone de ouvido no meu celular e fingi não estava escutando a histeria dela. “Não vou ficar assim!” Calmamente respondi: “nossa está feio mesmo! Esqueci”. “Agora acabou seu horário. Só na próxima consulta. Pode ir. Marque outro horário”. Expliquei para mãe o que eu estava fazendo e porquê estava fazendo aquilo. Se eu não tomasse as rédeas do tratamento a coisa não ia acabar bem.
Sabem qual foi o fim da história? Ela voltou e me pediu desculpas.
Queridos pais, o NÃO não causa traumas. Já pensaram que esses adolescentes estarão no mercado de trabalho em breve? Como será enfrentar o chefe? Já pensaram que eles vão enfrentar um relacionamento? Eles não sabem os limites, não saberão dizer o NÃO porque não conhecem o significado. E podem ter relações abusivas. Abusar ou receberem relações abusivas. Já pensaram que eles terão regras de condomínio ou na universidade para seguir?
Saber dizer NÃO é importante para impor os limites, para disciplinar, para melhorar a autoestima porque o NÃO é desafiador e quando você supera o NÃO a autoestima sobe.
O NÃO é respeito, é ter limites, é não beber e dirigir antes dos 18, é não assistir novelas feita para adultos, é não fumar maconha porque é proibido, é não fazer bullying, é não bater no amiguinho na escola, é não poder levar objetos que não lhe pertencem para casa, é não passar a madrugada na rua ou no celular, é não faltar a prova porque não estudou.
Crianças que crescem sem ouvir o Não crescem achando que são donos do mundo. E no primeiro NÃO que a vida lhe dá, surtam e passam a usar drogas, têm depressão, batem no chefe ou vizinho.
O mundo está carente de NÃOs. Cada vez mais os pais estão carentes de NÃO.
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Com carinho, Inês Bruno.